Hoje vou transcrever uma história que escrevi em tempos no Blog “Quem Conta”. Este espaço é de uma amiga, onde se propõe contar uma história a partir de uma palavra ou frase lida ou ouvida de alguém. O texto que vão ler, criei-o a partir de um texto anterior da Blogger sobre a “cara ou coroa” e porque sabia da intolerância desta amiga ao feijão-frade quando miúda.
Esta iniciativa tem por objectivo “picar” a Liana para que volte a dar vida a este espaço, tão bonito e criativo.
Com a devida autorização aqui vai ele.
“Feijão Frade.
Afinal tudo não passa de uma teimosia, pensava ela, enquanto tamborilava os deditos no tampo da mesa, esperando desesperada que a mãe lhe colocasse o prato da sopa à sua frente. Desde que transpusera a porta da rua, o aroma que chegava da cozinha, adivinhava o martírio de ter de aceitar aquela ementa.
Afinal tudo não passa de um jogo de poder maternal, e isto pensava ela enquanto esperava agonizante, na mesa de casa de jantar, que a mãe lhe colocasse o prato da sopa de feijão de duas caras.
Cheirou à sua volta e sentiu que por vezese os aromas se tornam tão familiares que deixam de ser reconhecidos de imediato.
Só quando sentia aquele cheiro, no limiar dos mais horrendos alguma vez sentidos por uma jovem na flor da idade, reconhecia que todos os outros odores, por menos agradáveis que fossem, existiam e eram sempre melhores que aquele cheiro a sopa de feijão frade!..
Dos sabores dos alimentos de verão, ficavam no palato os mais fortes, como nas tascas onde se confeccionam os petiscos mais apetitosos. Gente dos copos, sentada numa mesa de mármore, em frente aos pratinhos das confecções apaladadas e cheirosas. E as palavras a soltarem-se por ali, atrás do aroma de um tinto carrascão.
Afinal isto é mesmo uma teimosia escolhida sem pesos mas na medida de provocar a vontade da menina, em que o prato da balança tende sempre mais para um lado, a mãe, embora as chances da menina sejam completamente .... nulas!
O prato da sopa aterrando mesmo á sua frente, em violento solavanco, espelhado nos salpicos deixados sobre a mesa, fazia transparecer a ira daquela mãe sempre carinhosa, mas inflexível no exercício do poder que lhe lhe foi conferido.
Não tinha jeito argumentar a favor ou contra!
Por isso deixava que as colheradas lhe fossem dadas, sempre atulhadas, raspando pelos lábios para aproveitas os fios de sopa que caíam pela contrariedade, mas que tinham de ser carinhosamente aproveitados para nada se desperdiçar.
O olhar daquela menina, enquanto mastigava aquelas cascas escorregadias, fixava-se naquelas formas amosquitadas que boiavam e repugnavam. Ela sabia que eram os olhos!...
Mas como é possível a uma criança, a quem se ensina a construir a sua própria personalidade, dar-se um alimento de duas caras?...
Pior ainda, é a dúvida com que uma criança fica, pois nunca sabe qual das caras está a comer.
- Mas as crianças, porque as fazem sofrer assim?
Bastava uma sopinha de feijão de uma cara!... Não era necessário ser logo de feijão com duas caras!...
Os santos, de quem todos se lembram quando troveja, já tinham ido de férias até à praia da Vagueira. E o feijão, com dois olhos ao lado, boiava dentro da colher, na esperança de um dia dali caír
Tudo uma questão de paciência, pensou de novo, porque as duas hipóteses estavam ali, uma em cada cara do feijão!
Agora bastava esperar que a colher entornasse!.. e depois, escolher em qual das duas caras dar a chapada da vingança.
A colher inclinou-se. Imobilizou-se em frente da sua boca. Ali estava o feijão de duas caras. Ela não sabia qual escolher. Ainda pensou se não haveria uma mais bonita que a outra, para o castigo ser mais sentido.
De repente parou!...
Pensou!...
E ... perguntou:
- Mãe, porque é que há sempre um dos dias da semana, que tens uma cara diferente da dos outros dias da semana?...
A colher caíu de repente, pousou-se no prato. Abraçaram-se as duas.
A cara da mãe, passou a ser sempre a mesma
(Porque as histórias têm sempre um final feliz)”
Liana, volta em breve!
De Paula a 23 de Setembro de 2008 às 11:03
Olá bom dia,
Sim de facto uma bonita história. Ainda assim me fez viajar no tempo e lembrei-me de uma sopa que a minha mãe fazia muitas vezes e que eu detestava: sopa de favas... Imagina, ainda hoje não posso ver favas à frente, talvez na altura fosse mais barato e as finanças não estavam em "altas"...
Continua a partilhar histórias bonitas...
Beijocas,
Paula
Paula,
São algumas brincadeiras que por vezes faço, escrever histórias. Haja tempo para isso.
tretices gostosas para ti
Adorei a história! Parabéns e obrigada por a teres republicado aqui! Beijinhos!
Saltinhos,
Sempre que puder vou tentar reeditar TRETAS antigas e criar outras de raíz.
Tretices degustadas para ti
De
vita a 23 de Setembro de 2008 às 12:53
Muito bom, recria sim, vale a pena ler.;)
Beijo nino
Vitinha,
Obrigado. Ainda bem que gostaste.
tretices apaladadas para ti
De Patrícia Villar a 23 de Setembro de 2008 às 14:07
Riqueza, muito bom. Os meus Parabéns.
E votos de que o "Quem Conta" volte.
Beijinhos e obrigada
Riqueza,
Eu também gostava muito. Espero que a Liana leia este teu comentário.
tretices grandes para ti
De Anónimo a 23 de Setembro de 2008 às 18:48
Gostei do texto.
Liana volta.
Beijinho aos dois.
Anónimo(a),
Obrigado pela visita. Dava-me imenso prazer redigir aqueles textos.
tretices para ti
De
Liana a 24 de Setembro de 2008 às 11:29
Ahahahahhahahah
Reli, recordei e …sorri!
As histórias, como todas as histórias, têm uma função e mais tarde ou mais cedo têm um final (e ficamos sempre à espera que seja um final feliz).

O ‘Quem Conta’ teve o seu. 
Este feijão-frade está um must, canudo, e merece ser recordado. Foi um desafio gostoso.
Por falar nisso, tens é de escrever mais umas quantas, que eu ando com uma preguiça da treta e não vejo modos de passar.

Voltaremos a encontrar-nos, certamente, por aí, nalgumas escritas.(digo eu, que o bichinho fica e o feijão acaba por grelar)
Então vá…
Beijinhos e uma colher de sopa.
Liana, minha linda,
Tens andado desaparecida em combate.
Mas sabes, acho que a gureea já acabou portanto, faz o favor de arrumar o armamento, puxar do teclado, e recomeçar o interrompido.
Para a preguiça há umas varas de marmeleiro boas para a doença.
Nem e eu tenha de te continuar a provocar por aqui, até ver quando é que o bicho ataca outros legumes.
Muitas tretices para ti, minha blogueira de estimação.
De NoName a 24 de Setembro de 2008 às 13:01
Continuo a não perceber a moral da história e já a li em dias diferentes!
Deve ser o meu neurónio que deixou de funcionar.... eu também não gosto dessa famigerada sopa mas antes comer feijão-frade do que ser feijão-frade.
Um abraço
NoName,
A história nasceu de um comentário a um Post, que está linkado, cujo objectivo era agarrar numa ideia e criar.
A ideia partiu das duas faces de uma moeda e passou às relações pessoais, onde o protagonista é uma menina que não entendia como a mãe, sempre tão carinhosa para com ela, às sextas-feiras, dia de sopa de feijão-frade, tinha um semblante diferente.
A mãe era a mesma! A função, para aquela mãe, "obrigava" a alterações.
Mas, na verdade, não precisamos ter duas caras.
Foi uma história apenas!...
Um abraço
De NoName a 24 de Setembro de 2008 às 15:49
Pois bem me parecia que devia ser por aí!
Mas como eu tb sofri horrores com a dita sopa fiquei baralhada.
Obg pelo esclarecimento
NoName,
De nada.
Quero que quem me lê fique esclarecido.
Cumprimentos
De
patti a 24 de Setembro de 2008 às 17:42
Apetitosa história, não fosse ela de sopa, que eu adoro. E a minha filha então de sopa de feijão, pela-se!
Eu em criança só não gostava de uma sopa: a de agrião! E a minha mãe nesse dia punha uma dúzia de semblantes.
E eu e os agriões também!
Ainda hoje, olhamos de lado um para o outro.
Patti,
A sopa e eu somos inseparáveis.
Tenho momentos passados por causa da minha gludice por sopas, que me recuso a expor aqui, pela vergonha das TRETAS que poderiam pensar...
A minha cara só mudava quando na panela já não havia mais sopa para repetir o prato...
tretices sem agrião para ti
Olá.
Já tinha lido há algum tempo esta história.
Em pequena, detestava, e continuo a não suportar a sopa parola, como se chama por aqui. Sopa carregada de hortaliça e feijão vermelho, inteiro.
Gosto muito de sopa, com feijão, mas este tem que estar desfeito.
Mas a sopa de feijão frade é deliciosa.
Já experimentou arroz malandro de feijão frade? A minha mãe nunca o fazia. Um dia fiz, a conselho da minha imã mais nova e, adorei!
Este feijão tem um paladar bem fradinho, especial, eheheheheh!
Há pouco tempo também e pegando num mail que recebi da história de um sapo que se transformou em príncipe, eu e um amigo, criámos a versão actual da história. Um texto pequeno.
Já sugeri pormos nos blogs respectivos, mas ainda não o editamos.
Lanço um desafio. Vamos, juntamente com a Jade e a Liana e outras pessoas fazer algo ?
Eu não sou jeitosa para escrever, mas em grupo, pode sair algo interessante.
Vamos pôr mãos à obra?
Um abraço.
Maria
P.S. Tretoso-Mor, pode ver-me tb no blog red_shoes do sapo, com titulo "vermelho".
Cantinho da Casa,
Obrigado pela visita. Fico adirado e a Liana deve ficar contente por saber que o seu blog afinal era mais conhecido do que ela imaginava.
Eu assinava "Kami" os textos que ali escrevia. Tenho saudades.
E o desafio que está a lançar, pode ser algo muito interessante, embora o meu tempo disponível escasseie. Fica lançado o repto e falarei com a Liana, está prometido.
Quanto a sopas, eu e elas somos inseparáveis.
A sugestão que deu é óptma. A minha avó fazia com carapaus fritos. :))
Obrigado pela visita, mais uma vez.
tretices deliciosas para si.
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