Segunda-feira, 3 de Novembro de 2008

A Revolta dos Militares

- Capitão Trincheiras, mas agora vamos pegar em armas?!...

- Sargento Tirocínio, calma! Vamos primeiro ver o que isto dá. Pelo menos temos as armas do lado de cá.

- Meu Capitão, acha necessário tanto alarido?

- Ouça, estes gajos não respeitam ninguém. Têm de se sentir pressionados.

- Meu Capitão, eu não seria capaz de apontar as armas contra o povo!

- Ninguém lhe está a pedir isso, pois não?

- Ai não?.... Então o General Estratega, o que veio dizer na televisão?

- Aquilo foi só para por as “Tropas em fileira”.

- Meu Capitão, isso tem dois sentidos!

- Pois tem. É mesmo para isso.

- Meu Capitão, desculpe a pergunta, mas eu vi um dossier em cima da secretária do Tenente Fuzil com o título “Ocupação da Assembleia Nacional do Real Trambolhão” e “Ocupação do Jornal da TRETA”, será que…

- O quê?... Bom….

- Isso devia ser… algum plano de contingência para se algum dia algo acontecer. Sabe que a Assembleia e a imprensa, são pontos estratégicos de qualquer inimigo...

- Meu Capitão, já trabalho consigo há bastante tempo. Com o devido respeito, parece-me que o senhor me está a esconder qualquer coisa.

- Nada disso. Vamos mas é ao trabalho.

- Trabalho, meu Capitão?...

- Sim, temos muito para fazer.

- Desculpe meu Capitão, mas…. O quê?...

- O quê, Sargento?...

- Sim. Não temos recrutas para dar instrução, não temos munições para treinos na carreira de tiro, não temos combustível para saídas de campo…

- Sargento Tirocínio, está agora a perceber porque viemos a público fazer aquele aviso?

- Meu Capitão, mas o facto de em Março já não termos dinheiro para a nossa Unidade, já acontece há alguns anos!... Este barulho todo só surgiu porque foram retiradas as regalias aos militares e, em particular, aos oficiais e familiares dos oficiais.

- Sargento Tirocínio!.... Então nós estamos a movimentar-nos para vos proteger e vocês acusam-nos de estarmos a olhar para o umbigo?

- Meu Capitão, com todo o respeito, acho que os senhores oficiais estão a exagerar.

- Os Oficiais?!.... Isto é uma reivindicação de todos!

- Ai é?!....

 

 

publicado por Tretoso_Mor às 08:58
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Quinta-feira, 25 de Setembro de 2008

As TRETAS com o meu Tio – o Metro

Tenho um Tio 14 anos mais velho que eu. A sua aparência jovial, acabava por, na fase dos meus 18-20 anos (32-34 dele), dar a ideia que éramos quase da mesma idade. (Bom, o meu Tio se me estiver a ler, já deve estar todo babado). Depois deste pequeno parêntesis vou deixar registada para a posteridade uma situação que hoje, para nós é realmente hilariante, mas extremamente constrangedora na altura.

 

Num outro Post falarei dele e de mim e das nossas “coincidências”, mas hoje irei falar da “Aventura do Metropolitano”.

 

Na época, vivia ele em casa dos meus pais, preparando o “salto” para o lado de uma “moçoila” muito simpática, a quem hoje chamo Tia. A “safada” tanto andou, tanto andou, que se deixou catrapiscar lá pelo rapaz. Coitada!... Aquelas coisas de mulheres, todos sabemos…

Bom, mas voltando à história.

Diariamente, as manhãs repetiam-se. Saíamos de casa juntos, viajávamos juntos até determinado ponto, para depois nos separarmos, seguindo cada um o seu caminho.

Saíamos de casa à mesma hora, apanhávamos o comboio à mesma hora, entrávamos na mesma porta da carruagem, apanhávamos o mesmo Metro e, durante o percurso, encontrávamos sempre as mesmas pessoas…

 

O meu Tio, sempre macambúzio até ao primeiro café da manhã que só o bebia depois de se separar de mim, não abria a boca. Claro que isso não impedia que comunicássemos com o olhar e fossemos “gozando o pagode” todo o caminho. Ou porque era a mini-saia de uma rapariga que passava, ou o nariz empinado de outra, ou o buço de uma terceira. Podia ainda ser a gravata de um qualquer indivíduo, ou a camisa, ou o cheiro…

 

Enfim!...

Era no trajecto para o comboio, era no comboio, era na ligação com o metro e durante a viagem de metro. Havia sempre motivo para nos divertirmos silenciosamente.

 

A “malta” ia tão entretida a desfrutar as “cenas” que nos circundavam, que não reparávamos na TRETA que nos estava a acontecer!...

 

Bom, às sextas-feiras, o meu Tio ia para Lisboa trabalhar com um saco de viagem. É que o fim-de-semana, eram “dias de amasso” (expressão da Patrícia) passados no Alentejo, com a então, minha futura Tia.

 

Nos outros dias da semana despedíamo-nos normalmente, pois reencontrávamo-nos à noite. Mas nas sextas-feiras era diferente. Sempre fui habituado a despedir-me dos meus familiares mais velhos com um beijo.

Claro que era o que fazia quando me separava dele no Metro.

 

As primeiras vezes nem reparei no olhar das pessoas porque, como já contei, íamos demasiado distraídos.

 

Uma sexta-feira, no entanto, depois do meu Tio sair do Metro, ficando eu sozinho e mais concentrado no que me rodeava, pelo canto do olho, apercebi-me dos olhares de reprovação das pessoas, particularmente de uma senhora de idade que viajava sempre naquela carruagem.

 

Achei estranha a reacção. Tentei perceber se, na segunda-feira seguinte o comportamento seria o mesmo. Achei algum retraimento inicial, mas nada de anormal.

Até que chegou novo dia de viagem. Nesse dia é que foram elas!...

 

Depois de me despedir do meu Tio, houve uma senhora que diz em voz alta:

- Que poucas-vergonhas logo pela manhã!....

Na altura fiquei tão admirado e irritado que nem consegui responder à senhora.

 

Quando contei ao meu Tio, depois da admiração inicial, acabou por concordar comigo, teríamos de gozar a situação (e então ele, que ainda é pior que eu!).

 

Eheheh!...

Escusado será dizer que, durante a semana seguinte naquela carruagem do Metro, não nos calávamos e, à sexta-feira, despedíamo-nos com dois beijos na mesma, mas comigo a exclamar num tom acima do normal enquanto o meu Tio saía da carruagem:

- Tio boa viagem e dê beijinhos à Tia A.

 

Os queixos das senhoras começaram a cair de admiração, alguns com maior rapidez, outros só ao fim de uma semana.

 

Pois é!...

Raios partam isto, que a mente das pessoas é mesmo muito depravada!

publicado por Tretoso_Mor às 11:36
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Terça-feira, 23 de Setembro de 2008

Uma história que vos deixo.

Hoje vou transcrever uma história que escrevi em tempos no Blog “Quem Conta”. Este espaço é de uma amiga, onde se propõe contar uma história a partir de uma palavra ou frase lida ou ouvida de alguém. O texto que vão ler, criei-o a partir de um texto anterior da Blogger sobre a “cara ou coroa” e porque sabia da intolerância desta amiga ao feijão-frade quando miúda.

 

Esta iniciativa tem por objectivo “picar” a Liana para que volte a dar vida a este espaço, tão bonito e criativo.

 

Com a devida autorização aqui vai ele.

 

“Feijão Frade.

 

Afinal tudo não passa de uma teimosia, pensava ela, enquanto tamborilava os deditos no tampo da mesa, esperando desesperada que a mãe lhe colocasse o prato da sopa à sua frente. Desde que transpusera a porta da rua, o aroma que chegava da cozinha, adivinhava o martírio de ter de aceitar aquela ementa.

 

Afinal tudo não passa de um jogo de poder maternal, e isto pensava ela enquanto esperava agonizante, na mesa de casa de jantar, que a mãe lhe colocasse o prato da sopa de feijão de duas caras.

 

Cheirou à sua volta e sentiu que por vezese os aromas se tornam tão familiares que  deixam de ser reconhecidos de imediato.

Só quando sentia aquele cheiro, no limiar dos mais horrendos alguma vez sentidos por uma jovem na flor da idade, reconhecia que todos os outros odores, por menos agradáveis que fossem, existiam e eram sempre melhores que aquele cheiro a sopa de feijão frade!..

Dos sabores dos alimentos de verão, ficavam no palato os mais fortes, como nas tascas onde se confeccionam os petiscos mais apetitosos. Gente dos copos, sentada numa mesa de mármore, em frente aos pratinhos das confecções apaladadas e cheirosas. E as palavras a soltarem-se por ali, atrás do aroma de um tinto carrascão.

 

Afinal isto é mesmo uma teimosia escolhida sem pesos mas na medida de provocar a vontade da menina,  em que o prato da balança tende sempre mais para um lado, a mãe, embora as chances da menina sejam completamente .... nulas!

 

O prato da  sopa aterrando mesmo á sua frente, em violento solavanco, espelhado nos salpicos deixados sobre a mesa, fazia transparecer a ira daquela mãe sempre carinhosa, mas inflexível no exercício do poder que lhe lhe foi conferido.

 

Não tinha jeito argumentar a favor ou contra!

Por isso deixava que as colheradas lhe fossem dadas, sempre atulhadas, raspando pelos lábios para aproveitas os fios de sopa que caíam pela contrariedade, mas que tinham de ser carinhosamente aproveitados para nada se desperdiçar.

 

O olhar daquela menina, enquanto mastigava aquelas cascas escorregadias, fixava-se naquelas formas amosquitadas que boiavam e repugnavam. Ela sabia que eram os olhos!...

Mas como é possível a uma criança, a quem se ensina a construir a sua própria personalidade, dar-se um alimento de duas caras?...

 

Pior ainda, é a dúvida com que uma criança fica, pois nunca sabe qual das caras está a comer.

 

- Mas as crianças, porque as fazem sofrer assim?

Bastava uma sopinha de feijão de uma cara!... Não era necessário ser logo de feijão com duas caras!...

Os santos, de quem todos se lembram quando troveja, já tinham ido de férias até à praia da Vagueira. E o feijão, com dois olhos ao lado, boiava dentro da colher, na esperança de um dia dali caír

 

Tudo uma questão de paciência, pensou de novo, porque as duas hipóteses estavam ali, uma em cada cara do feijão!

 

Agora bastava esperar que a colher entornasse!.. e depois, escolher em qual das duas caras dar a chapada da vingança.

 

A colher inclinou-se. Imobilizou-se em frente da sua boca. Ali estava o feijão de duas caras. Ela não sabia qual escolher. Ainda pensou se não haveria uma mais bonita que a outra, para o castigo ser mais sentido.

 

De repente parou!...

Pensou!...

E ... perguntou:

- Mãe, porque é que há sempre um dos dias da semana, que tens uma cara diferente da dos outros dias da semana?...

 

A colher caíu de repente, pousou-se no prato. Abraçaram-se as duas.

 

A cara da mãe, passou a ser sempre a mesma

 

 

(Porque as histórias têm sempre um final feliz)”

 

 

Liana, volta em breve!

 

publicado por Tretoso_Mor às 09:44
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